Me movimento lento em direção ao abismo
páro na beirinha
olho para baixo
mas não me jogo
Também as formigas seguem até o abismo
enfileiradas marciais
não parecem olhar para baixo
nem se jogam
Sento na beira do abismo
deixo o vento remexer meus cabelos
olho o horizonte lindo
me deixo levar pelas possibilidades
Se me jogo o que há de mais?
Não quero voltar para trás
Não quero voltar atrás
Mas continuo a olhar para ontem
Meus medos não me deixam
não consigo me soltar
pular
Poderia tantas coisas
planejei tantas outras
pelejei poucas
empaquei
burro empacado na beiradinha do abismo
há quem diga:
– Nem tão burro assim…
Um dia deixo de ser formiga
tomo peyote
viro lobo
águia
vôo
e nenhum abismo me fará parar
nenhum pudor me eclipsará
serei eu e eu
serei apenas eu.