A brasa quente
ardente
mente
brilha crua
se insinua
Não há fogo
não há chama
apenas a brasa
atrai
convida
trai
e por mais que se saiba
que aquela é a brasa
em seu fascínio
o néscio
cai
A brasa quente
ardente
mente
brilha crua
se insinua
Não há fogo
não há chama
apenas a brasa
atrai
convida
trai
e por mais que se saiba
que aquela é a brasa
em seu fascínio
o néscio
cai
Caindo veloz
sem braços
sem abraços
sem nada
amargos os frutos caídos
amargos os seres traídos
a noite acolhe serena
os anjos que se foram
as dores incessantes
perdidos sem encanto
a água turva afoga
pulmões alvéolos plenos
seco morto
seco seco
tomba sem corpo a alma
sem paz
sem fé
sem nada
Passado ido
findo
finito
passava
lento
gente
morta
velhas
cartas
passadas
flores
mortas
mortes
Passado vivo
carne
cheiro
angústia
mão suada
gasta
usada
linda
lembrança
que por aqui passava.
Máscaras, Máscaras, Máscaras
voam sobre ti.
Máscaras, Máscaras, Máscaras
descem sobre ti
E o choro dos olhos vermelhos
e a dor dos lábios abertos
e o amor do seio desnudo
se juntam na vil sinfonia
na grandiosa melodia
do baile das nossas fantasias
20/02/1994
Vou embora, Riozinho,
vou embora…
me abrace, me agrade
vou embora…
Sua benção Riozinho,
vou embora…
com uma mala e uma paixão
vou embora…
Deixo aqui meu coração
levo só muitas lembranças
deixo aqui meu orixá
e as areias do meu mar
Vou embora, Riozinho,
vou embora…
Mancho de lágrimas a emoção
vou embora…
Para um dia voltar
sem ter jamais deixado de te amar
para poder me jogar no mar
cheirar o verde da tua floresta
e ver a pacata beleza da tua lagoa
ofuscando a beata harmonia do teu redentor
Vou embora, Riozinho,
vou embora…
Que saudades! Que aperto no coração!
vou embora…
Sua benção, Riozonho
vou embora…
Ilumina minha vida e me faça voltar
para nunca mais
ir embora
8/8/1994
As palavras escorregam
entram em mim
mel nos tímpanos
descem lentamente
rasgando
doces
lembrando
Mergulho tonto
na realidade
sim
sou eu
aqui estou
Suaves palavras
inesperadas
tão bem me fazem
nada de mais
ativam algo
no cerebro
cerebelo
um hormômio
feromônio
qualquer
que não
mais
conhecia
Que bom
lembrei.
Apenas palavras
de cheiros
de sabores
boas
palavras tuas
agora minhas
tão longe tão longe
eu as queria aqui
se foram
se perderam
tropeçaram
engasgaram
orvalharam
se foram
e tudo está ocre como no dia em que morreremos
A brisa do mar invade as narinas
traz seu cheiro
sua maresia
Apago
Vôo ao ontem tão longe
não havia tempo
mas o tempo parava
durou o infinito
e foi só um segundo
Viajo calmo
contemplo a vida
que passou
mas não passou
A ferida se reabre
a cortina despenca
a platéia aplaude
ninguém entende nada
ninguém sabe o que houve
nem eu
Corro para não perder um segundo
corro para ver tudo
sem intervalos comerciais
sem intervalos
já
Sinto a areia entre os dedos
a brisa mexe em meus cabelos
estou aqui de novo
apenas eu
aqui
de novo
Me movimento lento em direção ao abismo
páro na beirinha
olho para baixo
mas não me jogo
Também as formigas seguem até o abismo
enfileiradas marciais
não parecem olhar para baixo
nem se jogam
Sento na beira do abismo
deixo o vento remexer meus cabelos
olho o horizonte lindo
me deixo levar pelas possibilidades
Se me jogo o que há de mais?
Não quero voltar para trás
Não quero voltar atrás
Mas continuo a olhar para ontem
Meus medos não me deixam
não consigo me soltar
pular
Poderia tantas coisas
planejei tantas outras
pelejei poucas
empaquei
burro empacado na beiradinha do abismo
há quem diga:
– Nem tão burro assim…
Um dia deixo de ser formiga
tomo peyote
viro lobo
águia
vôo
e nenhum abismo me fará parar
nenhum pudor me eclipsará
serei eu e eu
serei apenas eu.
Caminho só
junto
só caminho
em frente
reto
preto
branco
só
caminho
junto
Passa
casa
passa
dor
passa
amor
só
junto
A onda vai
derruba
maré me leva
só
junto
Levanta!
Levanta!
Levanta!
Só
junto
Só junto
junto só
ao bel prazer da maré
patético
medíocre
fraco
babaca
só
Peripatético
Pensei que seria bom
mas não
Errei de alvo
errei de mão
Exacerbei
E quando encontro a realidade
Não há tristeza
Não há dor
Apatia