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Labirinto

Escuro
tateio
o breu

espero

sinal
caminho
guia

em vão

sorrio nervoso
eu sinto o cheiro
siga o cheiro!
siga o inebriante perfume!

Pare!

Pense
não pense
decida
espere

não sei.
ou sei?
não sei…

Idealizo a saída
mapeio tudo na mente
e a passos lentos
tímidos
implemento a pobre estratégia

no breu palpável do labirinto
não há escapatória na mente

é preciso

agir
quebrar as paredes
fazer entrar a luz

é preciso

não é fácil

Bicicletas e Tanques de Guerra

Nas estradas da vida,
entre campos de grama verde,
o ar limpo e a casa-grande,
há sempre pedras e buracos,
armadilhas imprevisíveis.

E, sem aviso,
surgem verdadeiras batalhas,
onde cada um luta contra si mesmo,
alter-egos desconfigurados,
caricaturas e desvios de si.

E contra cada um de nós
usamos diferentes armas,
deixamos de pedalar,
o acre odor de sangue aparece,
a vida nos transforma,
viramos tanques de guerra,
capazes de derrotar exércitos,
legiões desses espectros.

E vivemos em guerra,
matando como em todas as guerras,
atropelando todos,
com olhos abertos,
gozamos ao vencer.

E ao ironia é que a vida
é feita de batalhas
mas não é a batalha contra si a que importa.

Ao aprendermos a aceitar nós mesmos,
largamos o tanque,
e voltamos a andar para frente,
na boa e velha bicicleta.

Suspense no escuro

Onde está o suspiro?
No breu desmedido
as luzes das lampadas do prédio da frente
chapam na vista embargada.
Na vida embriagada pelas oportunidades
pelas verdades
pela pura realidade
pura puta fatalidade.
Estou incomodado

Qual suspiro?
Na solidão da cidade no mato
na beira da cidade ida
aonde há formas estranhas e vida
ninguém quer ninguém mais que si mesmo.
Não h’a suspiro.

O tempo leva meu sono embora e o cansaço fica.
E me arrasto vivo
fumo um cigarro
ainda estou vivo.
Um bagaço vivo.

Fechados os olhos nasce outro mundo
sem frestas ou lembrancas
sinais de fumaça
guiando por um caminho
zigue-zague.

Vai e volta.

E enfim…
Aparece o suspiro
que a vida não mais me trouxe.

Nos arquivos da consciência

Dilacerados papéis e letrinhas
mofados pelo tempo ido
lembranças vagueiam fantasmagóricas
horripilantes espectros de mim mesmo
nas frestas das janelas antigas da alma
passa um vento cálido de bafo
que sussura na nuca eriçada
palavrinhas e palavrões
nos arquivos da consciência

foi-se o tempo da brincadeira
das velas acesas e risos
da tremedeira epilética dos médiums
da inocência do mistério

Fie-te apenas em ti
que as horas se esgotaram
as memórias emboloraram
os amores escorreram
o sexo murchou

E na hora derradeira
ante o céu e o inferno
o diabo é o anjo que perdeu as asas

Sem destino

Sigo sem destino pelo mundo
sem caminho
sem trilha
sozinho

Todos estamos sós
mesmo acompanhados
a distancia entre a mudez e o som
é a palavra

A ponte entre nós
passa pelo movimento
da boca
dos olhos
da pele

capsulas de vida
casulos de amor
crisálidas de fé

amanhã será dia
mesmo estando eu noite
mesmo tardando a acordar
basta estar vivo

não basta estar vivo
para ser feliz

Quanto deixei para trás

Ceu azul
noite esscura
não importa a hora

Quanto fel
O muro está de pé
eu mesmo construí
e não deixei frestas
nem portas
nada

Se precisar passar
tenho que derrubar
deixar pra trás o peso
ou não terei forças

Despojar-me de tudo
e quando estiver nu
estarei só
e do outro lado
vida
mas estarei indefeso

Nunca mais quero construir muros
nunca mais defesas perdidas
livre-me do fel peregrinação
livre-me do fel